Manual

Hora ou outra na vida nos perdemos, desencontramos, erramos. Ou desvinculamos. Não que sejas impossível sobreviver aos infortúnios, embora, não seja fácil. Não há manual certo, mesmo que encontre vários conselhos prontos, como aqueles pregados em postes de luz, ou mensagens motivacionais que ninguém mais acredita. Mesmo que teus amigos digam repetidamente aquelas palavras que não aguenta mais ouvir. Sabes também que por mais difícil que pareça ser, o escuro traz uma coisa única de tatear coisas novas. O silêncio traz uma coisa gostosa de estar em própria companhia, uma nova chance de recomeço, afinal, sempre há um novo ponto de partida.

De repente se depara em frente aos próprios cacos sem perspectiva nenhuma de se reerguer. Mergulhado num copo cheio de tempestade onde os braços não alcançam a superfície. Com muita força reaprende a engatinhar, e aos poucos, mesmo quase sem forças, com fome e suando frio, consegue erguer os olhos marejados e desacreditados. Aos bocados, abraças o que ficou, pois alguma coisa sempre fica, e então despeja em uma caixinha bonita com laços e fitas, a qual apelida carinhosamente de “primeiros socorros”. Ali recorre em fins de tarde quando a sanidade falta e formar aquele nó na garganta que não se explica. Quando o telefone não tocar. Quando o sol bater na janela pela manhã e não ter forças naquele céu cinza interno. Está tudo bem. Apenas recue para o confortodeser que talvez ainda nem saiba que existe. E existe. Durante um longo período de tempo vai doer, e não se cura tão rapidamente como pensas. Por um tempo vai desejar não ter vivido aquela data, não ter tido um codinome ou cruzado alguns caminhos. Vai desejar ter ficado em casa naquela noite e não ter aberto aquela garrafa de vinho. Acreditarás firmemente que não ultrapassaras aquele dia. Mas passa. Quando a tempestade passar, saberás que valeu a pena ter um novo percurso pela frente. Saberás que cada poça da rua da tua casa, que caíram tuas lágrimas é pequena demais perto de todo oceano de cabe dentro de ti.