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Fins são inevitáveis


Sei que sim, foi o melhor a ser feito, mas dói, não é? Vou ter que reaprender a andar sozinha, cantar no carro sem ninguém ao lado completando os meus versos. Irá me dizer que serão poucos dias e que tudo terminará bem - e vai - sabemos que sim, mas e até lá? Como explicar para as paredes, que não te terei mais aqui? Ou ao nosso vinho favorito, que não haverão mais encontros marcados de última hora? Dói, entende? Saber que nossos beijos não serão mais nossos. Não estou falando de posse, mas na falta de ter alguma coisa realmente nossa. Qualquer coisa que seja. Uma porção de fotos, um chaveiro ou a camisa que esqueceu em casa. Imaginar que não compraremos um carro pra viajar a América do Sul como tanto sonhou. Não que não tenha chego a hora – concordamos que sim – o momento de dizer adeus é esse. Mas também não me lembro de citar que não doeria. Alguma vez encontrou em algum manual, em qualquer outro lugar, que o amor não dói? Ou que fins são inevitáveis? Eles são. Todos eles. Decidimos no momento certo, acredito. Evitamos chegar ao ponto de não poder mais ouvir nossos nomes. Pelo contrário, gostaria de poder te ouvir mais cem vezes me chamar ao telefone, ou bater na minha porta “Meu bem, cheguei”. Quem sabe vou poder te ligar só pra ouvir essas três palavras? Mas chegou o momento e fizemos a coisa certa. Triste, por saber que nos queríamos e estimamos tanto. Soube que seria você desde a primeira vez que te encontrei. Havia mais ali do que em todas as pessoas que conheci. Desde que seus olhos cruzaram com os meus nunca mais fui a mesma. Você se lembra? Vestia branco e você azul, escuro, com um tom de mistério - por fora - mas por dentro era só você, corpo livre, nu. Mais rápido do que percebemos éramos nós dois, despidos, terminando a noite olhando para o teto, rindo de uma porção de coisas que não faziam o menor sentido. Mal sabíamos. Mas tudo bem, o momento chegou e enfrentaremos. Pergunto-me apenas como serão nossas vidas daqui dez anos ou mais, quando nos cruzarmos em qualquer esquina. Vou sorrir pra você. Vou sorrir para o que fomos. Perguntarei por dentro, em silêncio, se seu sorvete favorito ainda seria o de flocos, e também, se ainda continuaria a dobrar suas camisas da mesma maneira. Coisas simples, que só eu sei. O momento chegou. Não teríamos filhos, não nos sentaremos juntos à mesa do jantar de natal, nem me dará cartões ao invés de presentes – como sempre pedi – mas guardarei cada um deles, para quem sabe, daqui tantos anos, por descuido arrumando a gaveta, me deparar com algum escrito “Eu te amo” e responder baixinho “EU TAMBÉM”.


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